AQUI, SALGUEIROS!!!

2006 foi o ano em que o maior clube bairrista do mundo deu o último pontapé na bola, em termos de futebol sénior. Fundado no longínquo ano de 1911, o SPORT COMÉRCIO E SALGUEIROS completou 95 anos deambulando já pelas ruas da amargura, longe dos tempos áureos em que militava com segurança na 1ª Divisão do futebol português.

Sou o (ainda...) orgulhoso sócio nr. 4055 desta majestosa instituição desportiva, mas, confesso, deixei de pagar as quotas. O que me movia dentro do "Salgueiral" tinha desaparecido e com isso acabou também por esmorecer a minha vontade de dar dinheiro, ano a ano, para algo que para mim e para muitos outros sócios era a grande muleta de domingo à tarde, sempre pelas 16h, quando o futebol ainda era o grande desporto do clube.

Eram realmente magníficas, deliciosas e empolgantes essas tardes. O ponto de encontro foi (e sempre será) a casa do «Gusto» ali para os lados do Bairro do Regado, logo depois de almoço para o irmos buscar. Geralmente, éramos eu, o meu pai, e o meu falecido avô António (até um dia destes, Tone!) que lá passávamos para o ir buscar e rapidamente nos dirigíamos para o velhinho Vidal Pinheiro. Já dentro daquele espantoso recinto desportivo, o ambiente não podia ser mais familiar, já que todos conheciam todos e a pergunta da praxe era sempre a mesma e sempre carinhosa: "Então, meu filho da puta, estás bom?!". O jogo começava e a linguagem logo descambava, com insultos ao árbitro (algumas das frases nem me atrevo a transcrever...), aos jogadores adversários e até mesmo aos jogadores do Salgueiros. Nunca o termo "factor casa" foi tão apropriado como naquela altura...

Mas o tempo passa - é inevitável - e a crise começou, por fim a crescer a olhos vistos. Sob a gestão mais do que danosa de um tal de Linhares, o clube começou a perder dinheiro de uma forma incrível, e o espírito de apoio que acompanhava sempre a equipa começou, também ele, a enfraquecer. Até o Estádio que tanto orgulho dava às gentes de Paranhos foi vendido à Metro do Porto! Nos últimos jogos que lá foram efectuados, relembro o discurso doloroso com que alguns sócios mais ferranhos tentavam enfrentar a perda da sua casa ("Talvez possamos vir a ter um estádio novo..."), e o rosto amargurado de um deles, feito num pranto, junto à vedação que separava a velha bancada (de madeira e chapas de aço) do relvado.

O "Salgueiral" havia sido iludido (e de que maneira...) e morria assim da pior maneira possível: com os credores à porta, sem estádio, sem identidade, sem adeptos (haverá alguém que deseje morrer sozinho...?) e sobretudo, sem forças para se levantar e pôr mãos ao trabalho. Mais: ia morrendo pouco a pouco, com as forças vivas da cidade inertes por vontade própria...

Lembro-me bem de como era e só tive pena de começar a gostar realmente do Salgueiros nos últimos tempos da sua vida. Era miúdo e o supracitado ambiente pouco me dizia respeito, pensava eu...

O HINO DO SALGUEIROS é a prova provada de que este não era um clube de grandes posses materiais, mas sim de um espírito de luta, qual comuna onde UNIÃO é palavra sagrada e pré-requisito para quem quisesse ser mesmo adepto salgueirista. Deixo-vos esse hino épico da autoria de José Guimarães:

I

Salgueiros da tradição

Tão velhinho e sempre novo

Tu vives no coração Na alma do nosso povo

II

O teu passado de glória Sempre em nós está presente

E a alegria da vitória Até faz cantar a gente

Coro

Salgueiros, meu Salgueiros

Ontem hoje e sempre Tu serás o mais bairrista

Salgueiros, meu Salgueiros Vive no peito da gente Sempre a alma salgueirista

III

A camisola encarnada Do meu velhinho Salgueiros

Tem a tradição vincada No coração dos tripeiros

Não há outro que te iguale nem com bairrismo mais forte

Ser salgueirista afinal É ter alma do norte.

Neste blog, o Salgueiros terá sempre uma casa; um adepto ferranho (digo-vos, hoje seria capaz de sofrer mais por um projecto humilde e popular como o do Salgueiros do que pelo meu Sporting Clube de Portugal); e uma memória que perdurará para sempre os feitos positivos do grande SCS. Todo o salgueirista é aqui bem-vindo e quem disser que o Salgueiros não é o maior clube bairrista de todos os tempos, perde todo o meu respeito enquanto adepto de futebol.

O meu avô completou, antes de nos deixar, 50 anos como sócio salgueirista; também ele era ferranho... e também ele gostaria que o Salgueiros morresse de uma forma digna. Tal como aconteceu com ele.

SALGUEIROS FOREVER, MEUS AMIGOS!!!