terça-feira, julho 24, 2007

CHURRASCO


A tarde já estava quente - 34ºC só à sombra - e ainda mais ficou quando as 4 moças desceram a escadaria de acesso à piscina do condomínio de luxo. Ele estava sentado numa das muitas cadeiras, protegido da radiação solar por um enorme guarda-sol, e também ele desviou o olhar de um dos últimos best-sellers de Miguel Sousa Tavares (Equador) para as ver passar, em direcção ao chuveiro. "Gajas boas...", pensou. "Já não leio mais." E pousou o livro. Passaram novamente por ele, e falavam o português do outro lado do Atlântico. "E ainda por cima, brasileiras...". Sejamos sinceros: não eram musas nem eram ninfas, mas também não eram nada de se deitar fora. Duas delas evidenciavam já alguns rasgos de celulite nas coxas (e apenas andavam na casa dos 20's) e as outras duas apresentavam mazelas na pele que provinham de uma exagerada exposição ao sol. "Mesmo assim, não estão nada mal!", pensou novamente.

A piscina estava praticamente deserta, o que, se por um lado lhe dava espaço de manobra para se aproximar das raparigas e tentar a sua sorte, por outro, levava as poucas pessoas presentes a pensá-lo como um chulo, ou quanto muito, como alguém que precisaria daquilo como de pão para a boca. "Estou lixado! Limito-me a ver...", voltou a pensar para si mesmo, desiludido por estar de mãos e pés atados.

Entraram, finalmente, na piscina e tomaram o primeiro de muitos banhos a que aquela tarde teria o prazer de assistir. Brincavam e «entretinham-se» umas com as outras. Ele continuava na cadeira, começando já a morder o lábio: "Porra que és sempre a mesma merda, pá! És sempre o mesmo tímido, caramba!", voltava a pensar para si mesmo.

Avistou um velhote, descendo as escadas; careca e barrigudo, mas apresentável, envergando um pólo e uns calções, ambos Ralph Lauren, trazendo a sua toalha debaixo do braço e fazendo-se ainda acompanhar do JORNAL DE NEGÓCIOS daquele mesmo dia. Foi com vísivel divertimento que ele acompanhou o percurso do velhote pela piscina: o corpo andava para a frente, mas a cabeça, essa ficava indefinidamente para trás, virada para o seu lado esquerdo, parecendo apreciar a qualidade dos petiscos dispostos. Veio sentar-se mesmo a seu lado, e disparou de imediato, sem sequer olhar para o seu interlocutor:


-Hoje temos churrasco?

-Como...? - respondeu ele, questionando-o.

-Se hoje temos churrasco? - voltou à carga.

-Que eu saiba não. Porque pergunta?

-É só fêveras aqui na piscina, pá!


Delicioso. Que filho-da-mãe...! E que bela maneira de fazer rir alguém...

O fim da tarde aproximava-se de forma galopante e ele continuava lá, resignado consigo próprio: naquela tarde, só iria apreciar, vendo.

Até que... elas se interessaram subitamente por ele. Risinhos, olhares e sussurros - qui ça sobre ele... - fizeram-no atrair o resto da sua atenção (os cerca de 5% que ainda faltavam) para o grupinho que se havia formado.

Até que... uma delas se levantou e se dirigiu a ele. "Já tenho o dia ganho", pensou ele. "Ainda bem que não voltei para o apartamento para ir jogar Football Manager..."


in Imaginação de Yours Truly a funcionar...

2 comentários:

Mariana Duarte disse...

"É só fêveras aqui na piscina, pá!" ???!!

MEDO.

UnfinishedSong disse...

mt medo realmente...
só sei q esse tipo de comentários me faz subir a mostarda ao nariz, por isso ficam sem ela! ora toma! :x