terça-feira, abril 15, 2008

A LEI DO MAIS FORTE




Fui um dos orgulhosos alunos que passou, durante 5 anos lectivos, pela Escola Secundária Carolina Michäelis. Por lá vivi os melhores anos da minha vida estudantil e por lá fiz amigos que, espero, possam perdurar para toda a vida. Ai, os «comícios» das 8:15, em pleno Inverno, no pátio da escola, onde todos rangiam os dentes, enfiavam as mãos nos bolsos e batiam os pés tentando combater o frio com que os habituais 6ºC nos presenteavam. Ai, as jogatanas de bola, num campo onde as balizas, podres, ferrugentas e sem redes, viram muitos golos e muitas "frangalhadas" de yours truly, em tardes quentes de Verão, abrilhantavam dias de aulas insuportáveis.


Isto, fora da sala de aula. Lá dentro, onde a lei do mais forte prevalece até no posicionamento do docente (dois degraus separam o mais comum dos alunos do professor intocável), o sarcasmo, a arrogância e a altivez reinam.


Recordo-me, muito especificamente, do meu último ano que passei na companhia do Carolina Michäelis. Era o ano de todas as decisões, o 12º Ano que garantia acesso ao Ensino Superior para mim e para muitos dos meus amigos e colegas. Tivemos que engolir muitos sapos vivos para não deitar tudo por terra. Ao entrarmos em algumas das tenebrosas salas de aula deste estabelecimento de ensino, o bombardeamento com insultos subtis, desrespeito pelos direitos dos alunos e sobranceria perante estes era, dia após dia, prato principal no cardápio de muitos de nós. Chamavam-nos de "cães" quando dava o toque de saída, comparando-nos aos "animaizinhos que o Pavlov treinou para reagir a estímulos". Engolíamos em seco e aguentávamos. Gozavam com alunos e alunas cujos pais se tinham divorciado. Ouvíamos as estórias e engolíamos em seco, aguentando mais um pouco. Éramos convidados a fazer dissertações sobre um tema, num teste de uma disciplina, e a nossa opinião era rejeitada pelo docente tudo porque não era "plausível" para os seus interesses. Íamos aguentando. Para a duração de 90 minutos, era-nos entregue um teste-tipo para Exame Nacional (apontado para 120 minutos) e era-nos exigido que o fizéssemos nesses mesmos 90 minutos. Começava já a ver os rostos cansados de alguns dos meus pares... mas sempre íamos aguentando.


Aproximavam-se os Exames Nacionais quando as primeiras lágrimas começaram a verter. Recordo-me bem de uma amiga de turma que não aguentou, perante a intransigência e a injustiça de uma nota que sabia lhe iria ser atribuída, e, fora da sala de aula, chorou com a mágoa de muito trabalho feito para apenas colher algumas migalhas do prato.


Depois, há ainda que falar do que se convencionou chamar "teacher´s pets" (animais de estimação dos professores). São eles quem colocam mais um tijolo na parede (obrigado pelo esclarecimento, Pink Floyd!), selando e protejendo o docente quando ele se prepara para engendrar mais alguma. São eles que finjem certas amizades, mas est
ao sempre prontos para desferir a facada nas costas do outro.


Como é que ultrapassámos tudo isto? Com a amizade. Entre amigos, decidíamos sorrir e colocar para trás das costas o que se tinha passado na sala de aulas. Ríamos por dentro e por fora e acreditem que o docente arrogante que passasse por nós e nos visse em algumas figuras menos próprias morria de inveja por não conseguir sorrir como nós o fazíamos. Ainda tivemos as nossas vinganças, sabem? Dentro das salas, sempre gozávamos com os «stôres» em tudo o que pudéssemos, pois também tínhamos esse direito.



Termino com uma ressalva: há bons e há maus professores. Não me refiro aos bons porque esses sabem que são bons. Agradeço aos bons professores do meu Ensino Secundário pelo que me ajudaram a crescer enquanto aluno e enquanto ser humano. Mas não me esqueço dos maus: agradeço-lhes também a eles por serem uns grandes sacanas. Só assim pude contactar mais de perto com o que de podre a raça humana ainda cria e conquistar um pouco mais de experiência de vida.



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