terça-feira, julho 08, 2008

O ESTADO DA NAÇÃO




Quando nos abeiramos de um qualquer tribunal, vislumbramos, mesmo que de relance aquando da nossa subida da escadaria principal, a mulher que ostenta a balança e que, por força do seu estatuto e poder (o judicial) se nos apresenta de olhos vendados. Chama-se Justiça, é (supostamente) cega aos olhos do povo, não diferencia e contribui, de forma decisiva, para o funcionamento correcto da nossa vida em sociedade.


Pois. Mas isto é Portugal. E, aqui, a Justiça abre bem os olhos, discrimina e não exerce um poder de equidade. Nem de longe, nem de perto.


Contactámos com o horror de um mega-processo de pedofilia nos últimos anos, no nosso país. O caso «Casa Pia» veio encher as páginas de jornais de cor... mas ainda não está sequer perto do seu fim. Ficaram provadas acusações graves contra muita gente, ficaram provados os abusos que muitas crianças sofreram, impiedosamente praticadas por homens sem escrúpulos e sem o mínimo de respeito pela vida e dignidade humana. Curioso não deixa de ser o facto de que, em casos considerados externos ao processo «Casa Pia», os violadores são detidos, presentes a um juiz e, em muitas das ocasiões, é-lhes dada guia de marcha para aguardarem julgamento em liberdade.


João Vale e Azevedo foi detido hoje. Ouviram, decerto? Um homem que roubou milhões e praticou um crime apelidado de "fraude fiscal" foi sendo condenado a vários anos de prisão, com muitos dos magistrados encarregues dos seus casos a quase que nem precisarem de olhar para os processos em causa. O veredicto estava dado: cadeia! Agora, escapou, está em Inglaterra e tudo aponta para que se safe de cumprir mais alguns anos de prisão...


Não parece estranho? O Estado português e a Justiça, à qual ninguém se pode opôr neste pedaço de terra à beira-mar plantado, prefere encarcerar os que desviam verbas para proveito próprio do que condenar violadores, pedófilos e assassinos que continuam a viver entre nós e os nossos filhos e que podem voltar a atacar.


O que se fez a João Vale e Azevedo, naquela memorável tarde em que esteve em liberdade uns eternos 17 segundos e em que foi de novo reconduzido para dentro das instalações da Polícia Judiciária de Lisboa jamais seria feito nem ao mais monstruoso violador.


Não me entendam mal: não estou a defender João Vale e Azevedo. Mas acredito que todos devemos ser tratados de forma igual. Compreendo a posição do ex-Presidente do S.L. Benfica. Mais: no lugar dele, podendo fazer o mesmo, podem crer que também escaparia para bem longe deste antro de incompetentes judiciais.


Esperemos que ainda não seja tarde demais. Esperemos que as pessoas tenham a decência de dar uma "pedrada no charco" antes que mais crimes de violação e assassinatos sejam noticiados pelos media nacionais. Esperemos...





2 comentários:

Anónimo disse...

Olá, mais uma vez. Tenho o prazer de dizer-te que tens uma excelente visão do que é o nosso ESTADO DA NAÇÃO (concordo contigo plenamente). Parabens e continua...
enhorabuena...

José Pedro Pinto disse...

Aí por Espanha existe um célebre juiz chamado Baltasar Garzón, especialista em corrupção ao nível de grandes instituições económicas. Mas, ao invés do que acontece no contexto português, ainda hoje fomos informados de um resgate de uma jovem que tinha sido raptada e violada durante dois meses a fio...

A isso chamo eficácia e equidade de tratamento. A isso chamo justiça.