sexta-feira, junho 08, 2007

DIÁRIO DE UM APAIXONADO (9)


Sexta-feira, 12 de Janeiro


“O quarto está escuro e o silêncio reina. Desliguei as luzes e fechei as persianas para que nem o luar pudesse iluminar um canto que fosse desta minha divisória pessoal. Num canto do meu quarto estou também eu enfiado, sentado e com as pernas coladas ao tronco. Ainda são só 20h00m. Raios partam, será que a noite não pode, por uma única vez, ser célere?! O silêncio continua a imperar e tu perguntas-me, com a maior das calmas: “Acabou tudo, não acabou?”. Sim. Infelizmente, tudo terminou e nunca pensei ver essa altura chegar. Foi este fim de tarde. Encontrámo-nos na praia (sempre a praia…) e ela foi directa ao assunto: queria acabar tudo entre nós. Não é preciso dizer-te que me apanhou de surpresa, pois não? Perguntei-lhe porquê, se não estava feliz comigo, e a sua resposta foi ainda mais fria e cruel do que o primeiro anúncio de quebra: não. Contou-me que ainda pensava nele todos os dias e que ainda não o tinha conseguido esquecer. Senti-me enganado, aliás, traído! Como podia ela fazer-me uma coisa destas?! Limitei-me a olhar em frente, para o mar, enquanto ela me ia confessando tudo aquilo, com as lágrimas nos olhos e o constante discurso “a última coisa que eu queria era magoar-te”. Acreditei nela e continuei a ouvir. Garantiu-me que não voltaria para ele, apenas que precisava de tempo para pensar na sua vida e, para isso, necessitava de estar sozinha durante uns tempos. Voltei a acreditar… e por fim levantei-me. Ela continuava sentada no areal, agarrando-se ao seu casaco, protegendo-se do frio e dos arrepios de culpa que lhe percorriam a espinha, para cima, para baixo, para cima, para baixo. Um beijo na testa, foi a maneira, tantas vezes usada noutras ocasiões, que encontrei para me despedir dela e para a confortar um pouco mais. Que porra, eu é que deveria ter sido confortado e não ela! Que hei-de fazer…? A minha cabeça está a 180km/h, ora calma, ora fervilhante, e as ideias irrompem como um ataque fulminante. Suo em bica, mas suores frios, e estou cheio de arrepios. As mãos tremem-me. Ela era a outra metade de mim, sabes? Completava-me ao máximo. Ainda agora não consigo esquecer o seu sorriso, aquele que me enfeitiçou logo no início, a sua voz doce e profundamente feminina ou até mesmo a maneira como abanava propositadamente os seus belos cabelos castanhos, mostrando o seu pescoço. Ligo a rádio e qual é a primeira música que ouço? “Too much love will kill you”, dos Queen. Até a minha mais fiel amiga personifica o presente (e quem sabe, o futuro…) da minha vida. Sem sentido, diga-se de passagem… Retomo a imagem da estrada: tenho duas alternativas, e a que me assegurava um futuro risonho ao lado dela ostenta o sinal «PERMANENTEMENTE INTRANSITÁVEL». A outra, essa conduzir-me-á a um caminho sem fim, de sofrimento derivado de objectivos pessoais e amorosos inatingidos e fracassados. É por aí que serei obrigado a seguir? Se não, então estagno. Ficarei para sempre à espera que a primeira estrada reabra para mim, em vão? Ou tomarei o passo decisivo em direcção ao vazio, ao escuro, ao infeliz em que me tornarei? Já não sei de nada. Só sei que preciso de arejar um pouco…”


in Imaginação de Yours Truly a funcionar…

1 comentário:

Vânia Monteiro Dias disse...

ohhh... não comento coisas que não sei :P