quinta-feira, julho 17, 2008

ORIENTAÇÃO GEOGRÁFICA: PORTUGAL




Alguém:
Mas tu pensas mesmo que estas confusões no futebol têm a ver com uma guerra Norte-Sul?

Eu: Sem dúvidas. E essa guerra não se faz sentir só no futebol...




E passo a explicar:



É um facto histórico que o Norte de Portugal sempre se viu menosprezado, reduzido a um pequeno pedaço de terra que esbarra numa barreira física de tamanha imponência como é o Douro. Mais: essa barreira física assume contornos de um muro psicológico, em que, para lá dele, tudo parece estar no seu sítio, em que as pessoas não se esforçam tanto como todos os considerados nortenhos para garantir o pão que todos os dias chega à mesa e em que as condições de vida são bem mais apelativas. Uma imagem que, assumo sem problemas, já muitas vezes me passou pela cabeça, mas que me custa admitir como válida.


Não é só no futebol que essa guerra se apoia para ir sobrevivendo. Aliás, essa dicotomia Lisboa-Porto (os dois pólos desta «Guerra Fria» improvisada, se quiserem) sente-se desde há gerações em outras áreas de actuação: política, economia.


Compreende-se o porquê de tamanha rivalidade? Deambulando pela Ribeira do Porto, subindo, de costas, o Bom Jesus de Braga, ou escalando o Marão, rumo a Vila Real, a opinião é a mesma: o Norte trabalha para que o Sul possa gerir os factores de riqueza aqui produzidos. Políticos e economistas, ou até mesmo o mais simples proletário do Sul, personificados em abutres em busca de um pequeno resquício de alimento, vão sendo apupados sempre que passam, a 90 km/h, na Ponte da Arrábida.


Compreende-se o porquê de tamanha rivalidade? Junto ao Tejo, na zona de Belém, onde os pastéis de creme reinam e onde habita o Presidente da República, os nortenhos são olhados de lado, desprezados, vigiados para que não desapareça nada que faça falta. A arrogância sulista traduz-se nos sorrisos insensatos e forçados com que presenteiam quem dê a cara por um sotaque do Norte.


A nobre, leal e invicta lidera o lado N. O centro nevrálgico do país, o lado S.


Deixemo-nos de rivalidades estúpidas que em nada ajudam o país a progredir. Ao passarmos pela Ponte do Freixo, de carro, deixemo-nos maravilhar com o pôr-do-sol com que o Norte nos premeia, a cada dia que passa. Ao passarmos pela Ponte Vasco da Gama, deixemo-nos banhar por um pedaço de água que nos inunda com a sua magnificiência e com o contraste entre o rural de Alcochete e a vida citadina da velha Lisboa que podemos vislumbrar, de relance.


Afinal, somos todos um: Portugal.